Aproximam-se mais umas eleições, não aquelas que aparentemente a maioria dos portugueses anseia mas outras que do calendário democrático já constam há mais tempo.
As populações vão ser chamadas a escolher os seus representantes, para os parlamentos locais e quem querem ver à frente dos destinos das suas autarquias.
Dos primeiros nunca se ouviu falar que auscultassem o povo, que dinamizassem consultas populares antes de ganharem a quantia inerente a cada senha de presença, num parlamento que tem muitas vezes tanto de ineficiente como de caricato.
Dos segundos, é difícil situá-los, tanto em termos de pensamento político como em termos de postura moral e ética.
A dança de cadeiras é inevitável e constitui um espetáculo deplorável de desrespeito pela democracia e pelos superiores interesses da população.
Passamos de um desejável e constitucionalmente defendido serviço ao povo, para um serviço a interesses instalados, a caciquismos, à promoção pessoal e familiar, que em nada abonam à confiança que todos devemos ter no sistema e pelo qual muitos lutaram anos a fio.
Em Portugal, é difícil ver ex autarcas que voltam a estar integrados na sociedade, na sua antiga profissão e lugar de origem, sim porque autarca não é profissão mas serviço público!
Para contornar a lei da limitação de mandatos, que timidamente os maiores partidos fizeram aprovar cheia de ambiguidades, o poder político preparava-se para aprovar outras estruturas regionais onde esses ex autarcas, humildemente (note-se a ironia), iriam servir mais uma vez o seu país.
O bloqueio dos tribunais, ao que parece um dos poucos garantes atuais da democracia, rejeita esta opção e põe entraves às mudanças de concelhos.
Passemos então à segunda opção em que atuais Presidentes de Câmara passarão a Presidentes de Assembleia e estes a Presidentes de Câmara, do mesmo partido claro!
Poderão ainda ser candidatos a outros lugares elegíveis, como futuros vereadores, mas voltar ao seu antigo lugar, ao seu emprego, isso não! Seria um desprestígio!
Para quem?!
Não é a primeira vez que nos debruçamos sobre o espaço do portal SAPO para tecer aqui alguns comentários.
Desta vez temos uma outra questão a votação: "As autarquias deviam recorrer com maior frequência a referendos nas suas tomadas de decisão?".
A este net inquérito temos, como respostas às 15:46h de dia 25 de Janeiro de 2009, a seguinte votação:
67% sim
23% não há necessidade
10% não sei
Ora a estes resultados, qualquer autarca que se preze, não ficará alheio a não ser por alguma ordem de razões que pode inclusivé passar pela pouca apetência destes eleitos para as NTIC, como podemos ilustrar pela fraca implantação das autarquias e dos seus serviços on line, no ciber espaço.
De facto são resultados que, a meu ver, mais do que serem susceptíveis de levar a um incremento desenfreado deste mecanismo democrático de consulta às populações, devem levar, isso sim, a uma reflexão séria sobre o porquê de tantos portugueses (e acredito serem muitos mais com a mesma opinião) sentirem esta necessidade.
Mais do que uma crise da democracia representativa, que nunca deve ser posta de lado, parece haver na base deste sentimento um aspecto muito mais grave - os autarcas, uma vez eleitos e ressalvando algumas e felizes excepções, esquecem quem os elegeu e o espírito de serviço público que deveria nortear a sua acção.
Os portugueses gostariam de ver os seus autarcas a cumprir promessas, a gerir estrategicamente os seus concelhos e freguesias, a deixar de lado a mediocridade da política gerida pelo caciquismo e eleitoralismo barato, pelo clientelismo e pela política da terra queimada que afasta os mais capazes e competentes, gostariam de ver os seus autarcas imbuidos de um espírito de cidadania, civismo e responsabilidade não pondo em causa o futuro dos nossos filhos e a existência de muito territórios.
Há algum tempo, o autarca Fernando Ruas, não aceitou a proposta do Ministério Público de pedir desculpas publicamente, na sequência das suas afirmações que incentivavam à violência contra representantes do Estado e que deveriam fiscalizar a suposta má utilização de dinheiros públicos.
Justificava ele que, se o fizesse, estaria a pôr em causa a dignidade dos autarcas...
Será que não percebe que já vai tarde demais?
Será que não percebe que sempre o fez?
Talvez.... mas a esperança é sempre a última a morrer!...