Para quem eventualmente pusesse em causa a estrita função opinativa do post anterior e o quisesse transformar em algo de pessoal ou anti clerical deveria ter ouvido com a atenção que dispensei, a entrevista a D. Januário Torgal Ferreira (Bispo das Forças Armadas) à Antena1 na passada semana.
Se já tinha admiração por tal membro da Igreja ela subiu consideravelmente após tal audição.
Ficaram bem patentes duas ideias fundamentais:
- em nome da Igreja, de Jesus Cristo e da Dignidade Humana, os muitos homens e mulheres, bispos padres e leigos, missionários e crentes têm tido um papel fundamental na promoção do Homem e da sua dignidade, no apoio aos mais fracos, aos mais pobres e aos mais desfavorecidos.
Veja-se a propósito exemplos como o Ex Bispo de Setúbal, D. Ximenes Belo, Madre Teresa ou o Padre Flausino que arriscavam a sua vida, tiravam da sua boca para dar aos mais pobres, cavavam terra para dar de comer, corriam risco de vida a defender os mais fracos, orgulhavam-se da sua acção e de cada um dos seres humanos que conseguiam ajudar. Recusavam a ostentação, o comezinho e faziam do seu exemplo a chama que mantinha e chamava para a fé muitos seres humanos
- em nome da Igreja muitos dos seus elementos mantém status e vidas acima de toda a miséria humana, afastam-se dela como o diabo da cruz, envergonham-se de usar a nomenclatura e os hábitos do sacerdócio, ignoram a pobreza, rodeiam-se de cortes e de faustosa vida, de carros e palácios, não tem tempo ou vontade para levar a mensagem aos hospitais, aos famintos, aos que morrem de sida, de drogas e outras misérias humanas.
Abrem a porta à colaboração dos que não seguem os conselhos da Deus e as leis da Igreja, rejeitam os que o fazem mas que não tem posição económica ou social, corroboram com práticas de discriminação social e humana, imiscuem-se em áreas da vida política reservadas a outras instituições do Estado.
Identificam-se com o papel da Igreja no Estado Novo e reagem corporativamente à mudança.
Grande homem este da Igreja que sabe ter o distanciamento, a inteligência, a humildade e a coragem do seu lado e acima de tudo sabe estar do lado certo - o de Deus!
Nos últimos tempos grande tem sido a preocupação da Igreja Católica sobre como não perder a pouca influência que tem na sociedade e reparem que eu escrevi influência e não privilégios , palavra certamente mais relacionada com tal preocupação.
Bispos que se reúnem para enviar "recados" ao governo de uma nação eleito por votação conforme todos os preceitos democráticos; representantes do Vaticano que, em solo português, aquando das cerimónias de Fátima, tecem considerações de ataque às políticas do nosso país; padres comentadores que questionados sobre a matéria dizem que "a carapuça serve a quem a enfia" ; reacções mais ou menos estrebuchentas sobre as dificuldades que a Igreja tem em fazer valer as aulas de EMRC e a Catequese num ambiente em que é possibilitada a livre escolha a alunos e encarregados de educação como se isso apenas se devesse às políticas de apoio às famílias do governo; reacções de extrema intolerância e arrogância quando o estado chama a si a gestão de instituições em que crianças eram maltratadas por membros da Igreja ou sobre a intenção de terminar com alguns privilégios que esta instituição tem granjeado à custa do dinheiro dos contribuintes.
Enfim tal é o rol de disparates que parece ter distraído os membros desta instituição da sua tarefa fundamental.
Mais acção e menos privilégio trariam certamente muito mais fiéis à Igreja que deveria estar sempre e exclusivamente ao serviço do próximo principalmente quando o próximo é o mais pobre e desacompanhado socialmente.
Talvez uma leitura cuidada da Constituição da República e da Biblia contribuisse...
. Perder privilégios? Nunca...