Parece mais um país da América Latina ou outro qualquer em vias de desenvolvimento em que se confunde justiça popular, vingança, tribunais legalmente constituídos, leis e tradição.
Estamos a falar não de nenhum desses países, sem desprestigio, é claro, mas do nosso pequeno Portugal. Pequeno no sentido literal e no sentido de tacanhez , de povo pacóvio que, em pleno século XXI, assiste a um Presidente de Câmara Municipal que não cumpre uma decisão do Tribunal e se arroga o direito de criticar a pessoa a quem este reconhece direitos e, como se não bastasse, a uma ordem dos médicos que incentiva ao não cumprimento de um despacho publicado em Diário da República por um governo legalmente constituído.
No primeiro, caso o Presidente da autarquia de Pombal, manda efectuar o alargamento de uma via pública em terrenos alheios sem sequer avisar do início de obras, o seu legitimo proprietário. Ao ser dada razão ao mesmo, o Presidente recusa-se a cumprir a ordem do Tribunal. Parece anedota uma vez que, como eleito democraticamente, devia assegurar o cumprimento da lei.
Segundo caso, as insólitas declarações de um organismo que supostamente representa os médicos e é legalmente reconhecido, para que estes não cumpram um despacho que inviabiliza as acumulações de gestão no público e no privado. Claro os médicos não são cidadãos como nós!
Se não fossem os disparates, a que nos habituámos neste país, ficaria surpreendido!
A classe médica e a sua ordem consideram desajustadas as novas medidas do governo que obrigam a um controlo de assiduidade e pontualidade destes profissionais de saúde.
Pergunto-me porquê e só encontro uma explicação... estes profissionais sentem-se acima de qualquer cidadão comum e através desse "estatuto" sempre desenvolveram a sua actividade sem o rigor e a exigência devida a qualquer cidadão comum, no seu posto de trabalho.
Não se trata de um trabalho voluntário mas sim de uma actividade remunerada que envolve a vida de terceiros que cumprem horários de trabalho, que devem explicações aos seus empregadores, que se deslocam, por vezes, de muito longe com despesas que dificilmente suportam...
Trata-se pois de, como qualquer outro funcionário, cumprir as tarefas para as quais é pago, de uma questão de civilização, de honestidade, de dever e sinal de respeito pelo serviço público de saúde.
Passou pela cabeça de alguém que um docente chegue constantemente atrasado às suas aulas? Ou que um maquinista entre duas horas depois do previsto?
Mas a todos nós nos aconteceu já uma situação de espera para além do razoável, em qualquer hospital ou um cancelamento de uma consulta do qual só se tem conhecimento na própria unidade de saúde, a muitos quilómetros de casa...
Só vejo uma solução, recrutar médicos estrangeiros pois esses saberão cumprir...