EXmo Senhor Primeiro Ministro
Em primeiro lugar uma justificação porque lhe escrevo hoje e desta forma.
A forma, prende-se com o facto de já o ter tentado por outra via mas, apesar de acusar a recepção das mensagens e dar instruções a gabinetes ministeriais para responderem em conformidade ou me manterem informado, enquanto requerente, sobre o andamento dos processos, lamento informá-lo, as suas ordens não foram cumpridas.
Mas o mais importante prende-se com o facto de ser hoje que decidi escrever estas linhas. Não seria justo não partilhar consigo a enorme alegria e orgulho que sinto neste dia ao conhecer as novas tabelas de IRS para 2013, que me permitem contribuir para sanar problemas da banca e outros que causámos sem aviso, mas também de ter ficado a conhecer o grande aumento de vencimento disponível para fazer face a todos os compromissos tributários e sobejar algum para alimentar condignamente os meus filhos.
Queria começar por lhe agradecer a forma atempada com que tudo foi feito para que pudesse planear a minha vida no novo ano mas, acima de tudo, pela redistribuição da riqueza que já lá vão mais de vinte e cinco anos tenho ajudado a criar no meu país e que V. EXa teve a amabilidade de efectuar nesta data.
Falo de trabalho, desde os tempos de adolescência, em tempo de férias escolares, para conseguir algo mais do que o básico para qualquer pessoa dessa idade.
Falo dos 24 anos de carreira de docente a contribuir para a formação de recursos humanos, das mais variadas idades, como forma de recuperar anos de atraso do meu país.
Falo de todos esses anos em que paguei cada cêntimo de imposto devido e ensinei a muitos os deveres básicos de cidadania e solidariedade mas também de honestidade e lealdade, mesmo quando tudo à nossa volta, principalmente nos meios que V. EXª frequenta quer em termos centrais, regionais e locais, levava a duvidar da validade de tais valores.
Agradeço-lhe pois a nova oportunidade para contribuir para a resolução dos problemas do país mesmo quando reparo que, tudo o que da administração depende, continua em lógica contrária.
Acredito que são apenas mais algumas ordens de V. EXa que não são cumpridas pelo que eventualmente ficará de sobreaviso.
Do que falo? Perguntar-se-á.
Dou apenas alguns exemplos por economia de tempo de V. EXª, que certamente não poderia estar horas e horas a fio a ler as minhas palavras.
Câmaras distantes entre si escassos quilómetros que promovem festas, beberetes, subsídios, presentes e “algumas” obras em favor dos mais desfavorecidos e da população em geral que reclama campos relvados, mesmo que sintéticos, piscinas cobertas, pavilhões multiusos e tudo em nosso nome, dos contribuintes, embora por uma questão de respeito e decoro nunca o refiram, assumindo as onerosas consequências de tais decisões.
Agradeço no entanto a ideia de terminar com a situação do número excessivo de freguesias que desfalcavam o erário público de forma tão vergonhosa e muito mais acentuada que as Câmaras Municipais. Foi uma ideia excelente de quem certamente demorou muitos anos da sua vida académica a estudar o assunto, mesmo que para outros não lhe restasse a mesma disponibilidade. Mas todos sabemos o que o nosso ministro da educação e ciência nos diz sobre o rigor das aprendizagens…
Aliás, por falar em educação poderia lembrar-lhe respeitosamente a necessidade de cumprir a decisão de encerrar serviços como havia ordenado. Certamente ainda não teve tempo…
Ou ainda que os problemas em educação não se resolvem com mais dinheiro atirado aos problemas, nem com despedimento de professores, nem com turmas mais, nem com assessorias nem com a distribuição de competências educativas por clubes, associações, autarquias e afins, mas sim perguntando a quem está no terreno como se poderia fazer mais com menos, dinheiro claro. E é possível caso ainda ninguém lhe tenha tido a amabilidade de transmitir.
Fico no entanto mais descansado e disso dou público conhecimento, por saber que estão a ser contratados serviços de empresas e profissionais de grande gabarito e relações certamente privilegiadas, que verificarão, a cada passo, todos os carimbos do POPH e demais exigências legais.
Porque a extensão destas linhas está certamente na proporção inversa do seu tempo para coisas menores, como os problemas dos portugueses, terminarei, não sem contudo lhe voltar a endereçar os meus agradecimentos pelas razões já expostas.
Agradeço-lhe também o facto de nos manter sabiamente em liberdade controlada até porque, nesse aspecto, já não poderia prometer-lhe tanta disponibilidade para compreender alguma distracção ou falta de tempo.
O respeito devido a familiares e cidadãos anónimos, que sofreram sobejamente com a negação dessa mesma liberdade, a fome e as provações associadas, num passado recente que não permite o esquecimento de todos, obrigar-me-iam a mudar de atitude e estou certo a muitos mais portugueses reconhecidos.
Estou certo que, para evitar isso, disponibilizará o melhor do seu tempo!
. "Carta" ao Primeiro Minis...